A Luta Contínua Contra a Discriminação em Todas as Suas Formas
O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, não é sobre flores e homenagens vazias. É sobre luta, resistência e necessidade de mudanças urgentes. Apesar dos avanços, a discriminação contra as mulheres persiste em diversas formas: desigualdade de gênero, discriminação racial, etária, socioeconômica, capacitista e LGBTQIA+.
O Fórum Econômico Mundial estima que serão necessários 131 anos para que a igualdade de gênero seja alcançada globalmente. Esse número deveria causar indignação, não aceitação.
Desigualdade de Gênero: Uma Luta Que Não Acabou
No Brasil, a Lei da Igualdade Salarial (Lei 14.611/2023) obriga empresas a pagar o mesmo salário para homens e mulheres que exercem a mesma função. Mas será que isso é o suficiente? Na prática, as mulheres continuam recebendo 20% a menos que os homens, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). As barreiras invisíveis, conhecidas como “teto de vidro*”, continuam limitando o avanço profissional feminino.
Além disso, mulheres ainda enfrentam resistência ao retornar ao mercado de trabalho após a maternidade e sofrem com jornadas duplas de trabalho, acumulando funções domésticas sem remuneração. A igualdade está no papel, mas não na realidade.
Racismo Estrutural: A Exclusão das Mulheres Negras
Se a desigualdade de gênero já é brutal, para as mulheres negras a situação é ainda pior. Segundo o IBGE, mulheres negras ganham apenas 44% do salário de um homem branco. E a sub-representação no mercado de trabalho é gritante: apenas 4,7% dos cargos executivos no Brasil são ocupados por mulheres negras, segundo o Instituto Ethos.
O racismo estrutural também se reflete na falta de oportunidades educacionais e na criminalização da pobreza, que impacta, desproporcionalmente, mulheres negras em situação de vulnerabilidade.
Mulheres Mais Velhas São Descartáveis?
O preconceito contra a idade é mais uma barreira invisível. Homens mais velhos são vistos como experientes, enquanto mulheres acima dos 50 anos são descartadas pelo mercado de trabalho. Essa mentalidade reforça a desigualdade econômica e social, empurrando muitas mulheres para a informalidade e insegurança financeira.
Mulheres com Deficiência: Invisíveis Para a Sociedade
O capacitismo exclui mulheres com deficiência de oportunidades básicas. Dados do IBGE revelam que apenas 28,3% das pessoas com deficiência estão empregadas, e a maioria são homens. Além das barreiras físicas, essas mulheres enfrentam a infantilização e a desvalorização de suas capacidades.
A falta de acessibilidade no ambiente de trabalho, somada à escassez de políticas inclusivas, perpetua esse ciclo de exclusão.
Mulheres LGBTQIA+: A Luta Contra a Marginalização
Mulheres LGBTQIA+ enfrentam discriminação, violência e exclusão profissional. Empresas ainda falham em criar ambientes verdadeiramente inclusivos, e muitas mulheres LGBTQIA+ se sentem forçadas a esconder sua identidade para manter seus empregos. Estudos indicam que a comunidade LGBTQIA+ sofre mais discriminação no ambiente corporativo, afetando seu bem-estar e crescimento profissional.
O Que Falta Para Mudarmos Essa Realidade?
A equidade não virá apenas com leis – é preciso uma mudança real de mentalidade e ações concretas. Algumas medidas essenciais incluem:
1. Leis com Fiscalização Rigorosa
A Lei da Igualdade Salarial já existe, mas precisa ser fiscalizada e aplicada com rigor para eliminar desigualdades salariais mascaradas por bonificações e promoções seletivas.
2. Políticas Corporativas de Inclusão Real
Empresas precisam ir além dos discursos e implementar programas de diversidade efetivos, com metas claras para contratação e promoção de mulheres, especialmente negras, com deficiência e LGBTQIA+.
3. Mudança na Cultura Corporativa
Treinamentos contra o viés inconsciente e mecanismos de denúncia eficazes são essenciais para eliminar o assédio e a discriminação dentro das organizações.
4. Flexibilização do Trabalho e Apoio à Maternidade
Licença-parental igualitária, creches corporativas e políticas de home office são fundamentais para permitir que mulheres avancem sem penalizações.
5. Representatividade na Política e na Mídia
Mulheres precisam estar nos espaços de poder, influenciando políticas públicas e narrativas na mídia. A ausência de mulheres na política e em posições de liderança perpetua a desigualdade.
A Hora de Virar o Jogo é Agora
O Dia Internacional da Mulher não pode ser apenas um dia de discursos vazios e postagens motivacionais. Precisamos de ação, fiscalização e comprometimento de toda a sociedade para derrubar de vez as barreiras que impedem as mulheres de ocupar os espaços que merecem.
A mudança só acontecerá quando todas as mulheres – independentemente de sua cor, idade, classe social ou orientação sexual – tiverem acesso igualitário a oportunidades. O momento de agir é agora. Quem está disposto a fazer a diferença?
*”teto de vidro” refere-se às dificuldades enfrentadas pelas mulheres para crescer na carreira e chegar a posições de liderança na hierarquia das empresas. Essas barreiras invisíveis são culturais e não, pessoais.