Descobrimento do Brasil e a gestão atual

Foi no dia 22 de abril de 1500, que 13 caravelas portuguesas, lideradas por Pedro Álvares Cabral, chegaram ao Brasil. Mas, somente 30 anos mais tarde, em 1530, que uma expedição, organizada por Martin Afonso de Souza, começou a se interessar pela colonização do País.

Em comemoração dos 515 anos do descobrimento do Brasil, entrevistamos o superintendente-geral da FNQ, Jairo Martins, que conta um pouco da história do País e das influências sofridas na gestão ao longo dos anos.

Como o povo brasileiro aproveita sua história e suas experiências para crescer?
Poderíamos aproveitar mais e melhor os exemplos da nossa história, começando pelo pioneirismo português em desbravar os mares, passando pelos sistemas das Sesmarias e Feitorias – que foram seguidos pelo regime das Capitanias Hereditárias -, pelas Entradas e Bandeiras, pelo Ciclo do Açúcar e o Ciclo do Ouro, entre outras iniciativas. Não podemos nos esquecer do legado do Brasil holandês, que fez do Recife um importante centro cultural e comercial. Ou seja, temos muitos exemplos de empreendedorismo e de pioneirismos que serviriam de experiências positivas.

Do descobrimento do Brasil até hoje, quais foram as principais mudanças em relação à gestão do País?
Logo após o descobrimento, Portugal não sabia muito bem o que fazer com as terras brasileiras, já que não encontrou, aqui, as valiosas especiarias. Não há dúvidas de que o Brasil de hoje é reflexo de todas as mudanças ocorridas nas formas de governo: Capitanias Hereditárias, Governo Geral, Independência, 1º Reinado, Regência, 2º Reinado e República. Em relação à gestão, o Brasil sofre, ainda, em decorrência da herança “cartorial” deixada pelos portugueses, na qual o Estado tinha prioridade em relação à sociedade. Isso explica a complexa burocracia brasileira, que até hoje afeta a competitividade do Brasil. Esse não é um bom exemplo e ele vem se arrastando há muito tempo.

Com um país tão diverso como o nosso, você acredita que é possível ter um único modelo de gestão?
A gestão é, de forma simplificada, utilizar bem os recursos disponíveis que geram valor necessário à sociedade. Esse conceito aplica-se a todo o tipo de organização, seja ela pública, privada ou do terceiro setor, de qualquer porte e natureza. Um modelo de gestão orienta a organização a agir de forma sistêmica, começando pela liderança, que deve ouvir a sociedade e seus clientes para definir as suas estratégias e os seus planos. A partir daí, devem ser estabelecidos processos eficazes e eficientes para serem conduzidos por pessoas capacitadas e motivadas, tanto pelo conhecimento quanto pelas informações transparentes e éticas, para gerar resultados.

Olhando o Brasil como uma “grande cadeia de valor”, desde que haja um alinhamento público-privado, é possível sim, senão recomendado, ter um único modelo de gestão para o País. Isso melhoraria, e muito, a reputação do Brasil, que se tornaria mais competitivo e poderia voltar a se inserir no cenário internacional de comércio.

Você acredita que o fato de termos sido colonizados por portugueses continua influenciando na forma como gerimos o País?
Não há dúvidas de que a colonização portuguesa influenciou a forma como gerimos o Brasil. Há pontos positivos e negativos. Entre os positivos, cito o empreendedorismo e a coragem de desbravar o desconhecido. O fato de termos uma língua única, com um gigantesco território, demonstra um poder de liderança dos portugueses. Aqui também houve uma benéfica miscigenação racial, deixando-nos flexíveis. Nesse ponto, às vezes confundimos flexibilidade com permissividade, o que nos deixa muito passivos diante de situações que não deveríamos aceitar. Como já dito, a herança “cartorial” portuguesa é um mal que se perpetua até hoje na nossa gigantesca burocracia, que constitui uma das grandes barreiras contra o desenvolvimento do Brasil.

Na sua opinião, a diversidade cultural do povo brasileiro influencia na gestão do País?
A diversidade cultural nos deixa mais flexíveis e isso pode ser tanto positivo quanto negativo. Hoje, sofremos muito com isso: não cobramos, não propomos e não sabemos votar. Precisaríamos ter uma certa “inquietação propositiva” e cobrar mesmo. Já podemos ver que isso está mudando um pouco, mas acredito que é porque chegamos no limite e espero que continuemos nessa linha.

O brasileiro tem o costume de achar que tudo o que vem de fora do País é melhor, mas, ao mesmo tempo, é considerado um dos povos mais criativos. A que se deve isso?
Nesse ponto, temos um “complexo de vira-lata” e acredito que ele tenha sido desenvolvido no período colonial, quando os portugueses importavam coisas luxuosas e iguarias para mostrar que eram de outra classe social. À medida em que a população foi melhorando de padrão de vida, esse costume português foi se alastrando. Criamos até o termo “produto tipo exportação” para caracterizar produtos de boa qualidade. Pedimos “caipiroska” ao invés de “caipirinha”, que é nossa. Somos um povo, sem dúvida, criativo, mas valorizamos sempre o que vem de fora.

Ao falarmos de gestão, como você acredita que será o futuro do Brasil?
Acredito que precisamos apenas desenvolver um novo modelo mental, que alinhe o público e o privado para a melhor gestão dos recursos do Brasil, que são muitos. Temos também de esquecer, temporariamente, partidos e ideologias políticos e cuidar do Brasil. A FNQ está aqui para isso: ajudar as organizações a buscar a excelência. O momento atual é propício para criarmos um novo marco institucional, ou seja, um Plano de Gestão para o Brasil, pois é como costumo dizer: tempo de crise é tempo de gestão!

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